domingo, 31 de janeiro de 2010

Soneto Para o Tempo

E  longe no tempo há de ficar,
o tempo de ser criança.
Dos contos de Tio Oscar
e da Terça, a lembrança.


Ouvindo o pranto do rio.
Correndo na grama a vontade.
Sendo também arredio.
Meu Deus! É tanta saudade.


Mas o tempo, vil carcereiro
que nos soma anos de idade.
Faz-nos crescer, e matreiro:


Inventa todas as pressas
Trabalho, tristezas, dinheiro,...
Morremos cobrando promessas!

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

AS POESIAS


As poesias têm vida própria.
Elas nos usam para vir ao mundo;
Não pertencem a mão que as
trouxe à luz.
São de todos que as lêem.
E nós, tolos poetas
acreditamos que somos iluminados,
inspirados,...
Sequer escolhemos as poesias,
elas nos escolhem
e no final,
entre uma tristeza e outra,
nos acolhem. Por fim,
em suas entrelinhas.
Nos aquecem e secam nossas
lágrimas de nanquim.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Todas as Palavras


E se eu não tivesse:
Nascido?
Crescido?
Vivido?
Sentido?
Sofrido?
Contido?
Percebido?
Decidido?
e
Renascido?

Para onde iria o perfume das
flores?
O ventre da Ninfa?
A Flauta de Pan?
E todas as palavras que te
dediquei pelo caminho?
Em folhas amarelas de um papel
pelo tempo
carcomido!

sábado, 16 de janeiro de 2010

Sementes



E novamente, quando surgir o dia
tu verás com teus próprios olhos
que no ontem estavam as sementes
que colherás no amanhã!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Ao Amor Antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

Drummond

sábado, 9 de janeiro de 2010

Atitudes x Palavras



Um tantão bem grande assim,
de sentimentos bons e palavras doces;
Perdem em disparada para uma única atitude má!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

No Espelho

Olhando no espelho, desfilam reflexos  afoitos;
Feito crianças em fila,
a atropelarem-se;
Pelo melhor lugar defronte ao palco.
São cenas de um passado recente
que, inconseqüente,
nem lutou para auto conjugar-se
num futuro mais-que-perfeito.

O mesmo espelho que outrora,
teimava em refletir uma felicidade tórrida
repleta de brilho no olho e futuros à imaginar,
tempos de verbo e espelhos,...
que mistura insólita!

E se é para fazer versos
de uma tristeza que não cicatriza
o poeta em seu refrão, no papel,
idealiza:

“Mescla de anjo e pecado,
onde fostes buscar o ardor?
N’algum lugar do passado,
sucumbistes ao sonhador,
que inerte, e ainda calado,
resgata em vão, os pedaços
De seu mais precioso amor “!