No espelho observo a silhueta de um homem sisudo.
Não há traços de um sorriso próximo ou
de alegrias recentes.
Há rugas que o tempo deixou, uma expressão de
cansaço, algumas pontinhas de mágoas e
interrogações polvilhadas pela face.
Há também um brilho no olhar.
Marca de fé, amor e esperança.
Há o homem que espera e acalenta
seu coração em lembranças doces,
gestos atávicos e caminhada branda.
Este é o homem que vejo.
Reflexo de meu ser e rastros de meu existir.
A Feira do Livro de Porto Alegre, promovida pela Câmara Rio-Grandense do Livro, e que já tem espaço reservado na agenda dos gaúchos a cada primavera, chega a sua 57ª edição com a expectativa de receber mais de 1.7 milhão de visitantes. Ocupará, mais uma vez, a já tradicional área da Praça da Alfândega,estendendo-se até o Cais do Porto, entre os dias 28 de outubro e 15 de novembro. Maior evento do mercado livreiro das Américas a céu aberto e com entrada franca, recebe autores e convidados de vários outros estados e países.
O velho perambulava cabisbaixo
rua afora.
Decorara cada pedra do caminho
ao longo dos anos.
Fluiam lembranças de outrora
num turbilhão de minuto;
Nem poesia, nem loucura;
apenas pensamentos desordenados
no tempo.
ao longe um aceno de alguém
que já partira.
Era agora, objeto de seu destino.
E assim se fez a passagem, num simples
sorriso de canto de boca.
Ou seria apenas o último delírio?
Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Verruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem
Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem
Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem
Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem
O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho*
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem
Procurando bem
Todo mundo tem...
Falam-me tanto de Deus.
Mas falam-me de um Deus de fora prá dentro,
porquê não um Deus de dentro prá fora?
Eu quero é ser sujeito da oração,
não um termo pejorativo,
um coletivo imensurável
ou um pretérito imperfeito.
Cada um de nós é anjo, Deus e demônio.
É só uma questão de ponto de vista,
oportunidade e, acima de tudo
"atitude"!
Se eu não plantar a semente,
quem há de me dar o pão?
E vem da lida, o suor;
da vida, o temor;
de um sonho, o ardor;
de devaneios, o amor
e da loucura,
o horror.
A insanidade,
esta lucidez desmedida,
descabida e mal
resolvida.
Embala o sono encantado,
como se fosse o primeiro;
como se fosse em janeiro.
E se não fosse um coitado,...
Tanto faz!
Pois onde andará o amigo?
Os loucos e os poetas?
sequer merecem castigo.
Sequer carecem jazigo!
Amigo não é palavra solta. Tem sentido, adjetivo, sujeito e ação. Amigo manda uma flor. Ser amigo é expôr-se à emoção. É ouvir, calar, falar, afagar, e até censurar. É coração! Amigo é presente raro, carece de tempo e, doação!
Feito semente em solo fértil brota livre, brota audacioso. Não cobra nada e nada pede aguarda passivo, dadivoso.
Ter um amigo é ter um cadinho de céu na terra. Virtual, real, intelectual ou leigo, Branco, preto, amarelo ou vermelho. Ter um amigo, é jamais estar só, mesmo que em pensamento!
Quero um barco meio mar
Um meio, não achei, não veio
Pra sair do charco feio
Quero um barco meio mar
Um porto meio lar
Um corpo feito pra se amar e sem receio
Meio assim doente, de repente
Cheio desse olhar ausente
Meio louco
Meio um sufoco
Meio coca-cola
Meio mal dá bola
Meio inconsequente
Como se no meio da cidade
Na velocidade
Na saudade
Na maldade à toa
Nessa claridade, tanta coisa boa se desmancha feito um picolé no sol
E feito um picolé no sol eu quero estar agora
Pra esquecer do mal que tá lá fora
Me esperando pra cobrar a taxa
Tá com a mão toda suja de graxa
Tô ficando meio assim xarope
Dessa lenga lenga, já amarrei o bode
Pode crer que tudo tem a ver com tudo
Tem a ver com o mundo
Tem a ver com ser perfeito
Tá na rua, tá na banca de revista
Tô na pista e não te desconcerta
Sempre alerta
Na notícia esperta
Nesse compromisso
Numa dose certa
Veio como onda, bomba
Longa história nua e sem certeza, sobre a mesa tua
Crua e sem semente, mente me confunde
Funde a minha e a tua neste instante, ante
Vejo um pôr do sol brilhante
Como nunca dantes me arriscara e fui tomar a cara
Um primeiro passo
Dum segundo passo
Dum terceiro passo, eu acho
No caminho dessa descoberta, não tem compromisso
Com trilhar o que já foi trilhado
Deixo tudo ali do lado e parto cego e sempre em frente
Um tanto quanto alucinado
E nado para estar presente
Nada como estar assim ciente
Sem estar cansado
Sem estar à margem
Sem estar doente
Sem faltar coragem
Sem querer fazer charminho
Sem querer carinho
Sem querer carona
Quero um barco meio mar
Um porto meio lar
Um corpo feito pra se amar
Crua e sem semente
Mente me confunde
Funde a minha e a tua neste instante
Um primeiro passo
Dum segundo passo
Dum terceiro passo...
E depois
Só nós dois
Tudo mais
Tanto faz
Quero amor
Quero luz
Dentre os raros bens que deixarei,
(sem valor comercial algum).
Ficam os velhos chinelos,
disco do Chico, foto da Elis.
Um punhado dos sonhos mais belos,
de um dia ser feliz,...
Prá você que é meu amigo
deixarei uma rima curtinha.
Beijo expresso no papel,
entre uma e outra linha.
Te deixo também a certeza
desta cumplicidade desmedida.
Pois amizade como a nossa
transcende o tempo da vida.
Saibas que és especial
para este sonhador.
Pois que, amizade prá sempre,
É melhor que um curto amor!
Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.
Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.
Pablo Neruda
Eu quero a rua da minha infância
que vive ainda na memória.
As brincadeiras de roda,
Cordão de calçada e estórias.
paixão pela vizinha,
pegar na mão de mansinho e
futebol no campinho.
Eu quero soltar pandorga,
Jogar bolita e pescar no Guaíba.
Sonhar com o futuro,
sentar no muro.
Andar por aí sem medo.
Subir o morro logo cedo.
Ver na face da minha mãe
aquele ar de aprovação.
Aquela doce emoção!
Eu quero ser sempre o menino
que brincou de ser feliz.
Que gostou da professora
Que sonhou sonhos incríveis;
Cresceu num piscar de olhos
mas mantém acesa a chama,
a lembraça e a saudade.
Que despertou a vontade
de voltar a ser guri.
Contemplo teu amor estático
a enfeitar meu passado.
Relembro meu amor enfático
que bocejou desvairado.
Contemplo, relembro;
Sigo? Paro? Não sei!
Tiro os olhos do retrovisor.
Miro insano a estrada íngreme.
Esta se oferece á minha frente
(feito noite eterna)
e me sussurra coisas.
Viver e trabalhar,
trabalhar e viver.
Mas, entre meios
amar.
Pois que, sem imprimir amor
nada do que plantamos pelo caminho
haverá de brotar.
E não existe algo mais triste
do que um caminhar por solos áridos.
Sem frutos à distribuir no final.
--- O tio. Tem coisa prá dar? Me perguntam do portão.
--- Hoje não tem nada. Afirmo da porta.
E elas seguem rua abaixo batendo nas casas. Cachorro do lado, boneca encardida no braço, sonhos desconhecidos na mente e quem sabe quantas tristezas no peito.
E tem sido assim a anos. Elas cresceram, trouxeram irmãs menores,
num ritual de tristeza e realidade que as vezes me corta o peito.
O que o futuro reserva para estas pessoinhas que a sociedade esqueceu?
Eu não sou a favor de dar-se o peixe, mas podíamos (sociedade) ensinar a pescar.
Ensinar os pais destas crianças a não beneficiarem-se desta tenra infância que passa na lida duvidosa e informal.
Podíamos tanto. Queríamos tanto. Nada fazemos enfim!
Talvez por que não sejam os nossos filhos que batem nas portas dos outros na esperança de uma simples refeição decente.
Semi inerte,
feito moribundo
ou um tanto vagabundo;
(Tanto faz)!
Eu lia as notícias do dia.
- Quantos morreram.
- Tantos acidentes.
- Dúzias de incidentes.
- As desgraças iminentes.
E foi daí que ocorreu-me:
E sobre o perfume das flores?
O nascimento de um amor?
O desabrochar de um poema?
Estes não valem sequer uma
pequena notinha de rodapé?
Quando amanhece chovendo, o cinza da rua
nos remete à uma tristeza quase coletiva.
É como se os amores de todos nós tivessem
ido embora.
No entanto,
foi apenas o sol que não veio trabalhar!
"As vezes ficamos extremamente tristes
por coisas que simplesmente ainda não
nos foi permitido compreender."
As primeiras rosas
trazem as lembranças
que o seu perfume marcou.
Em cada pétala escondem-se
os segredos todos
de momentos ímpares.
Até os espinhos
cumprem sua parte.
Lembrando os dissabores
Nos canteiros da casa ao lado
há tanta história à ser contada.
Tanto da vida de tantos,...
Quisera ser o passarinho,
que carrega as fofocas entre uma
flor e outra,
feito indiscreto carteiro
vai e vem, vem e vai.
Nem se cansa! E assim,
todas as flores do bairro sabem de tudo.
Ou quase tudo, enfim,...
Que a verdade é bicho que não se permite
ser dividida sem que aumentem um cadinho
aqui ou ali,...